quinta-feira, 4 de maio de 2017

Trigger without warning

Eu tinha 6 anos quando eu entendi que eu não era prioridade. Quando você tem um irmão suicida é isso que acontece.
Das 3 tentativas, eu lembro bem de 2, a primeira é meio difusa. Mas eu lembro melhor ainda de todos os dias que se seguiram a isso.
Eu tinha 6 anos e tinha que entender que okay, eu queria algo. Mas meu irmão queria outra coisa e ele talvez não estivesse aqui pela manhã. 
Talvez ele quisesse pegar meu dinheiro sem avisar, talvez ele quisesse me acordar, talvez ele quisesse que meu aniversário fosse um churrasco. Talvez ele quisesse pegar um livro meu e ele não precisa realmente de autorização pra isso, precisa? Ah é importante pra você? Mas não faz caso com isso, você nem sabe se vai ter seu irmão. Você não pode ser assim egoísta.  Isso nem faz sentido.

Aprendi a não ocupar espaços, a não reclamar, a não ouvir música, não escolher minha comida, não abrir a boca sobre o que eu queria. Aprendi que me dariam forças mas que os caminhos eram solitários e meio fechados mas eu tinha que abrir sozinha.

Não é difícil entender que com o tempo eu passei a desejar que meu pulso estivesse coberto de cicatrizes.  Que aqueles remedios entupissem minhas veias porque aí sim minha voz teria valor. Ou talvez eu morresse e qual seria a grande diferença? Aí eu não precisaria estar sempre fingindo que está tudo bem e ouvindo: ah ela nem dá trabalho, fica feliz com umas coisas bobas.

Porque eu não fico.

Mas o que adianta reunir a coragem do peito e dizer: Não quero. Quantas vezes passaram por cima de mim? O Julio queria.  Julio não fez por mal. Você tem que entender.
Eu não quero na vida adulta ouvir o que eu ouvi quando criança. Eu não quero desejar fortemente estar morrendo também porque não tem nada de bom em estar tentando tanto estar viva. Pelo contrário, tudo fica pior.

Eu sabia que a L. vir aqui seria trigger pra mim. Não sabia te explicar isso mas é tão injusto eu ter que explicar para ser ouvida.  Você sabia que eu não queria nem que você cogitasse isso.

Dói pra caralho saber que minha voz não tem valor. Que 20 anos depois eu estou no mesmo patamar. Que eu devia só aceitar e mentir porque o que eu sinto vai ser ignorado em prol de outras pessoas. Dói saber que depois de 10 anos me conhecendo você ia fazer o mesmo machucado em mim.

Isso não é metade do que eu queria te dizer mas eu não quero te dizer tudo que eu estou pensando.
Eu confiei uma vida em você.
Não me arrependo.
Mas você não vai fazer eu me afogar. Eu me recuso a piorar. Sim, vai doer. Sim, tô com a confiança toda quebrada mas eu vou viver. E eu vou ter essas pessoinhas a minha volta que vão me dar suporte.
Porque hoje eu acredito que eu mereço isso. Que eu posso pedir isso.
Mas não de você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário